terça-feira, 30 de junho de 2009

TEXTO 5

OS PROBLEMAS COGNITIVOS ENVOLVIDOS NA CONSTRUÇÃO DA REPRESENTAÇÃO ESCRITA DA LINGUAGEM

EMÍLIA FERREIRO


A autora inicia o texto confirmando o fato de ter em Piaget sua principal fonte de inspiração nas pesquisas sobre leitura e escrita; destaca como tendo sido uma questão fundamental nas pesquisas de Piaget as investigações sobre como se passa de um estado de menor conhecimento a um estado de maior conhecimento?
É preciso ver a leitura e a escrita como um objeto socialmente constituído e não apenas como uma técnica que precisa ser aprendida; sendo assim, é preciso analisar se a criança já estabelecia algum tipo de esquema, de organização em uma determinada ordem que lhe permitia, a sua maneira, compreender o processo de leitura e escrita, não podemos nos esquecer do fato de que nenhuma aprendizagem começa do zero.
Segundo a autora essas representações da linguagem, chamadas de pré-alfabéticas se sucedem de acordo com uma certa ordem: primeiro a criança utiliza representações que não apresenta correspondências com a sonoridade nem com a escrita da palavra; depois ela desenvolve modos de representações silábicos com ou sem valor sonoro convencional e modos de representação silábico-alfabéticos que precedem a aquisição da escrita de acordo com as regras alfabéticas.
Sabe-se que essas construções feitas pela criança durante esse processo de aquisição da leitura e escrita são produções originais que partem de sua lógica interna de ver e tentar compreender esse nosso mundo adulto e alfabetizado; nessa busca por significados a criança recorre a materiais de apoio visual e não visual de acordo com o que ela tem disponível em seu ambiente familiar, socioeconômico e cultural. Não se pode precisar com exatidão que tipo de informação visual uma criança pode compreender antes de ser um leitor “letrado” e qual a informação não-visual que essa mesma criança está em condições de utilizar. O desafio é compreender como as crianças evoluem nesse processo de organização e substituição dos conhecimentos adquiridos anteriormente e o substituem por outros mais elaborados.
A partir desse desafio de compreender a forma como a criança se relaciona com esse objeto de conhecimento, Ferreiro destaca um dentre os muitos problemas cognitivos que poderiam ser analisados, trata-se da relação entre o todo e as partes que o constituem, ou seja, entre a palavra ou uma frase e as letras que as forma ou a forma como esta se organiza, mostrando como a criança cria seus mecanismos de leitura e interpretação para cada palavra ou frase.
Um dos exemplos mais freqüentes e que pude vivenciar vária vezes com meu filho Pedro, que tem 4 anos e está no Jardim II, é a tentativa de ler seu nome. No início quando ele aprendeu a letra P, primeira letra de seu nome, todas as vezes que ele via uma palavra que começasse com P ou mesmo que o tivesse em outra posição, ele lia: Pedro Asafe. Apesar de ter um nome duplo e estar aprendendo apenas o primeiro nome ele sempre lia seu nome completo. Mais recentemente quando começou a escrever seu nome duplo, às vezes ele lia o nome e sobrenome: Pedro Asafe Andrade Baptista. Hoje, ele já compreende um pouco melhor o esquema das letras pede que eu dite para ele as letras de determinadas palavras para que ele possa escrevê-las.
As crianças, muitas vezes, criam mecanismos de leitura e escrita observando a quantidade de letras que se precisa para escrever uma palavra, de alguma forma elas percebem que precisa-se, na maioria das vezes, de mais de duas letras e que estas não podem se repetir sucessivamente muitas vezes. A mesma lógica elas utilizam no momento de fazer o plural, pegam as letras que utilizaram na construção da palavra e as repetem de acordo com a quantidade descrita.
Nessa fase a criança ainda não consegue relacionar as questões de quantidade e qualidade de letras na escrita, o que a Autora denomina de correspondência quantitativa e correspondência qualitativa.
Uma mudança muito importante começa a ocorrer na questão qualitativa quando a criança começa a perceber que não se pode ler coisas diferente com repetições idênticas das mesmas letras; num momento seguinte, ela depara-se com o fato de não poder colocar as mesmas letras nas mesmas ordens, então , ela começa a assimilar que ao mudar a posição de cada um das letras, palavras diferentes vão sendo construídas com diferentes significados. Essas percepções quanto a diferenciação na seqüência das letras para que se obtenha uma leitura, constitui-se para a criança uma grande realização.
Frente a tantas descobertas a criança encontra-se num dilema gerado por tantas informações perturbadoras que lhes fora fornecida pelo mundo adulto alfabetizado; pois a criança compreende o que faz, mas não pode compreender todas as informações que recebe então, três tipos de reação são possíveis: deixa-las de lado, compensá-la localmente, ou assimilá-la alcançando um novo nível de equilibração.
Espera-se então que ela consiga abrir mão de todos os seus esquemas para enfim dominar nosso sistema de linguagem e escrita tido como correto.

Um comentário:

  1. Aline, mais uma vez vejo que você tem refletido de forma muito dedicada. As ideias apresentadas são de sua autoria, baseadas no texto de Ferreiro, e retratam bem a sua compreensão, tendo em vista que está muito claro o seu entendimento. A observação do processo de leitura e escrita de seu filho é um bom indicativo de que está compreendendo os conceitos e avançando em seu conhecimento...

    ResponderExcluir